quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Retratos de um homem intenso: Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa, considerado o mestre do simbolismo brasileiro, nasceu em Desterro, hoje cidade de Florianópolis - SC, no dia 24 de novembro de 1861. Desde pequenino foi protegido pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa, que o acolheram como o filho. O referido marechal havia alforriado os pais do escritor, negros escravos. Educado na melhor escola secundária da região,  por consequência do falecimento de seus protetores teve que abandonar os estudos e ir trabalhar. Vítima de perseguições raciais, foi discriminado, proibido de assumir o cargo de promotor público em Laguna - SC. Em 1890 transferiu-se para o Rio de Janeiro, ocasião em que entrou em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Vivia de suas colaborações em jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de "Missal" e "Broquéis" (1893), só conseguiu se empregar na Estrada de Ferro Central do Brasil, no cargo de praticante de arquivista. Casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, em 09 de novembro de 1893. O poeta contraiu tuberculose e mudou-se para a cidade de Sítio - MG, a procura de bom clima para se tratar. Faleceu em 19 de março de 1898, aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão. Sua obra só foi reconhecida anos depois de sua partida. Gavita, que ficou viúva, grávida, e com três filhos para criar. Após o a morte do escritor perdeu dois filhos, vitimados também pela tuberculose. Com problemas mentais, passou vários períodos em hospitais psiquiátricos, vindo a falecer. O terceiro filho, com a mesma doença, faleceu logo em seguida. O único filho que sobreviveu, que tinha o nome do pai, também faleceu vitima dessa doença aos dezessete anos de idade.
A poesia de Cruz e Sousa, cujos 150 anos de nascimento são celebrados hoje, é carregada de versos fortes, com um vocabulário que transita entre a paixão, a amargura e o desencanto. Reconhecido tardiamente como um dos mais geniais escritores de seu tempo, o catarinense buscou inspiração no cotidiano e na paisagem  da cidade onde nasceu.  

 A morte
Oh! que doce tristeza e que ternura
no olhar ansioso, aflito dos que morrem...
De que âncoras profundas se socorrem
os que penetram nessa noite escura!
Da vida aos frios véus da sepultura 
vagos momentos trêmulos decorrem... 
E dos olhos as lágrimas escorrem
como faróis da humana Desventura.
Descem então aos golfos congelados
os que na terra vagam suspirando,
com os velhos corações tantalizados.
Tudo negro e sinistro vai rolando
báratro abaixo, aos ecos soluçados
do vendaval da Morte ondeando, uivando.

A noiva da agonia
Trêmula e só, de um túmulo surgindo,
Aparição dos ermos desolados,
Trazes na face os frios tons magoados,
De quem anda por túmulos dormindo...
A alta cabeça no esplendor, cingindo
Cabelos de reflexos irisados,
Por entre aureolas de clarões prateados,
Lembras o aspecto de um luar diluindo...
Não és, no entanto, a torva Morte horrenda,
Atra, sinistra, gélida, tremenda,
Que as avalanches da Ilusão governa...
Mas ah! és da Agonia a Noiva triste
Que os longos braços lívidos abriste
Para abraçar-me para a Vida eterna!

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